Era um pequeno café, de balcão minúsculo, daqueles de bica cheia e sandes de queijo com pouca manteiga. A menina que ali servia esboçava um sorisso que as olheiras fundas demonstravam esforçado. Uma luz violácea, nocturna, iluminou-lhe por momentos um rosto miúdo e exausto. Sentada a um canto, uma criança ensonada fazia brinquedos de latas vazias: «Mãe, vamos para casa ou a nossa casa é aqui?». Senti vergonha de pedir o meu café, como se assim perpetuasse aquela desumana escravidão. Na esplanada, sonoras gargalhadas de boa disposição, enchiam a noite.