A janela do ocaso daria, no imaginário de quem lê, esplendorosamente sobre o mar. Dela se veria o instante mágico do raio verde, o segundo único em que se some a luz diurna e a noite chega, morna e equívoca. Só que o sol também se põe por detrás de duras serranias, entre azuis brumosos e verdes espessos, visto de frestas enfarruscadas de fuligem, chaminés improvisadas de fumeiros vespertinos, prenunciando o caldo e a deita. E igualmente há o anoitecer na charneca da planície, ainda mal dispersas as vagas ondulantes das tardes de calor, o dia de amanhã monótono como o de hoje e como ele sem história futura. A verdade é que tudo ocorre nesta nesga de cidade. Mísera janela, insignificante mansarda, um terceiro esquerdo que às quatro da tarde perdeu a luz, e pela noite se afunda em escuridão. A janela do ocaso são as tabuínhas cerradas de uma vida a encurtar-se, vivida sofregamente nesta escrita a entristecer-se.