Trouxe-o por empréstimo. As folhas ressequidas de quarente e oito anos de vida, cortado em oitavo, que era a forma de poupar papel naqueles tempos de penúria, editado pela Civilização.
«Há hoje no mundo pouca gente que durma; as noites são mais longas, mais longos os dias».
Começa assim, o pequeno conto. «Toda a humanidade tem agora febre de dia e de noite; esse terrível, pavoroso estar deperto transparece nos sentidos sobreexcitados de milhões de criaturas», continua Stefan Zweig. O texto data de 1914, o mundo dilacerado por uma guerrra que sacrificou milhões. Chama-se «O Mundo não pode dormir», título que deu nome à obra. Quando foi editada uma nova chacina dizimava a Europa, o berço do homem que se julga civilizado.
Trouxe-o comigo, emprestado, pela dor que causa este anseio de paz, este desejo enfim de sono, a condição do sonho, o local de refúgio dos desiludidos.
Stefan Zweig suicidar-se-ia, em 23 de Fevereiro de 1942, com Lott Altmann, no Brasil, recluso no fundo de si mesmo.
Metódico, deixou tudo arrumado e organizado ao pormenor, antes de dar, enfim, sentido à vida. Tinha sessenta anos de idade.