Num livro sobre Kant li que «manifestar tanto engenho para ficar de boa saúde é um sinal de doença». O filósofo alemão só continuava de boa saúde porque acreditava estar sempre doente. Eis o poder das convicções no seu perverso efeito retrógrado, a lógica do mundo em sentido inverso ao dos ponteiros do relógio: o ser hipocondríaco como terapia para a doença real através da doença imaginária.
Se um mundo assim tem uma lógica, ela só pode ser a dos «professores do desinteresse» e a dos «discípulos indesejados», numa noite de insónia nascida da vontade de não dormir. As frases, estas, são do Nietzsche, que era, na sua genialidade, um agregado de doenças do corpo e de mazelas da alma.