Cinco anéis, três na mão esquerda. Fatinho colonial, abrasileirado, de uma sarja bera que já fora branca. Sapato a condizer, peitilho esburacadinho para ventilar calores tropicais que por aqui não há. Aclimatado, um coletinho em lã a desdizer tudo, um transistor à orelha encostado, em volta de um relato de bola quase inaudível, no meio da algazarra geral. Falava esganiçado, aflautado, saracoteante. Na mesa ao lado, soturnos, densos, conspirativos, de poucas falas, boné leninista, os da velha guarda do Partido olhavam-no com cautelosa desconfiança. Foi no Café Central, que atirava para a rua o grito de uma tabuleta: «o seu café». Foi então que ela entrou. Esguia de felina, ondulante de jibóia, possante de palanca, mulata espectacular. Fizeram-se tréguas por um instante. O do fatinho nem olhou, os camaradas não tinham orientações para poderem olhar. Todos os demais, casais aparelhados e solitários por vocação, embabascaram-se, absortos nela e do sábado esquecidos.