Não há muitos anos ainda não havia internet e os modems eram umas caixas exteriores , com um débito lento e sucessivas quedas de sinal. Comprava livros antigos em Inglaterra através de uma senhora de quem me lembro de duas coisas: primeiro, que tinha uns folhetos comerciais que ostentavam um gato empoleirado, cauda eriçada em pose espreguiçadeira, em cima de um monte de livros; segundo, que se chamava Caroline.
O esquema era simples: eu mandava-lhe um fax com a lista dos livros procurados, ela descobria-os nos lugares mais recônditos. Um dia veio um de uma companhia de lanceiros na Escócia, cuja biblioteca havia sido desactivada. Outras vezes impregnava-os um cheiro a mofo por terem estado armazenados na escuridão bolorenta de alguma cave.
Lembrei-me hoje com saudade dos gatos e dos livros que me chegavam de Inglaterra. Vi este bichano, qual caminhante sobre as águas encapeladas da literatura. De jangada.