Extravagante, insolente, próximo do paroxismo e do pânico, eis Guilherme Augusto Cau da Costa de Santa Rita, Santa Rita Pintor como passou para a posteridade, uma posteridade para que se lançou aos vinte e oito anos. Estive com ele mais de perto há uns tempos quando tive nas mãos, por confiança extrema, o número dois da revista Orpheu. A meio uma estampa, litografada, composta em Paris em 1913, a que chamou de «compenetração estática interior de uma cabeça - complementarismo congénito absoluto». Esta noite abri o álbum que Joaquim Matos Chaves lhe dedicou em 1989, ano do centenário do seu nascimento, e que a Quimera editou. Progredi com muita incomodidade pelas páginas em que o anedótico, a blague, vão lançando a peçonha do burlesco, do clownesco, menorizando a grandeza do delírio, do éter do êxtase. Quase no fim surgiu a académica Cabeça de Velha com que foi laureado com vinte valores na cadeira de expressão de Veloso Salgado. O sorriso ligeiramente tombado, uma aura de viuvez, há nela uma névoa no olhar, uma avó a retirar-se da família, do mundo, da vida. Mas foi com o inacabado Louco que me aproximei da meia-noite numa noite em que hesitei sobre se teria algo a dizer. Boquiaberto, um grito feito de dor sem dentes, olhos esvaídos, ele é um sangrar-se pela tela, oblíquo, transversal, torturadamente repulsivo.