Quando eu tinha muitos blogs e escrevia com o meu próprio nome tinha a angústia dos dias em que não escrevia como se tivesse sucedido ter deixado de viver. E depois quando escrevia fazia-o sempre como se fosse outro e quem lia porfiava em imaginar que tinha sido eu.
Um dia vim para aqui deixar que a escita surgisse quando houvesse vontade e mesmo que ela não tivesse que ser mais do que um caderno de um qualquer leitor.
Li na revista Ler que, lutando contra o esquecimento, a família de Mário Dionísio teima em seguir, mesmo sem apoios, com a Casa da Achada, tornando público o espólio deste homem extraordinário nas letras e nas artes, se é que a diferença existe. Vim aqui deixar a notícia, como um repórter chegando à redacção, depois de um dia na rua, a chover, à procura de uma local, a edição a fechar.
Talvez isto seja o meu jornal. Fazê-lo tornou-se um vício diário, como se dizia da velha Capital. Por definição, aliás, jornal é aquilo que sai sempre.
Estão a renascer-me velhos tiques: dia em que não escrevo vivo mal, dia em que não leio é como se tivesse morrido. Qualquer dia escrevo com barbatanas de plástico, latas velhas esquecidas...