Quando conheci a escrita da Dulce Maria Cardoso já ela tinha ganho o prémio Acontece com o seu livro Campo de Sangue, mas eu li primeiro o que foi o seu segundo livro. Segui-lhe o conto que divulgou na revista do jornal Expresso, vivido num farol, em tons de azul, e o livro de contos que juntou esse a outros, o Até Nós. Do que li não gostei de muito pouco. É uma escrita notável. Os Meus Sentimentos magoa a alma, dói. Um livro belo, uma escrita que arrebata a mente. Faz perguntar onde viveu ela tanta vida.
Hoje vejo-a premiada pela Europa e a sua editora a reimprimir-lhe os livros. Fico contente, como aquele que tivesse dito «eu já sabia».
«Quando nos contam uma história ouvimos sempre outra», diz Violeta, de quem os homens riam, mesmo quando lhe gozavam o corpo, apoucando-a, «uma mulher tão gorda, tão gorda que quando caía da cama caía para os dois lados», Violeta que se esvai em agonia, porque ao fim de uma vida «apanhámos o hábito de nos magoarmos» e «os moribundos são mansos que o desespero é coisa de vivos».
Um dia estive em Urbino e encontrei-a, traduzida em italiano. Eu sabia, Violeta «um nome de uma flor que também é uma cor».
Agora é uma questão de tempo e o rancor da crítica ser inferior à inveja dos outros escritores.
Agora é uma questão de tempo e o rancor da crítica ser inferior à inveja dos outros escritores.