Já tinha lido o livro, já tinha escrito sobre o livro, mas lembrava nada. Conheci fugazmente o Álvaro Guerra quando eu escrevinhava pelo jornal República. Não li o Café República. Mas li A Lebre o tal livro de que me esqueci e hoje fui reencontrar na estante. Revi os sublinhados para tentar encontrar o fio condutor da narrativa, se tal faz falta, porque na Literatura podemos prescindir da história contada para melhor se apreciar o modo de a contar.
É um livro de exílio e de memória, de perseguição e despedeçar de corpos, livro de universidade e de remorso colonial: «sim, minha querida, Sou realmente um negro civilizado, não há dúvida, mas acontece que me corre nas veias o sangue dos massacres do meu povo», porque Guerra veio marcado pela guerra em África, trouxe-a para a literatura e «já passou mais do que o tempo necessário para ter morrido na boca dos cães e cada parcela desse tempo transcorrido é uma vitória».
Estreou-se como escritor com Os Mastins. Foi publicado em 1967. Tem um prefácio de Alves Redol, seu conterrâneo. Hei-de lê-lo e a tudo o mais.