Resuma-se numa só frase o último livro de Rita Ferro. Resumo-o: só o sexo pode ser repartido, o amor é indivisível. No booktrailer que divulga a obra diz-se que os quatro corpos que dão história ao romance «gozam até ao fim». Só não é totalmente assim pois há a dor. E há instantes na narrativa onde um gotejar dorido vai esvaindo aquelas personagens, rasgadas na sua intimidade pela luxúria e pelo desejo de posse. O universo é por vezes concentracionário, a vida e a morte contracenam, o amor e o ódio abraçam-se, num swing fatal que prenuncia tragédia. É tudo, porém, demasiado humano. O riso surge, então, desconcertante. É um estudo sobre a alma sem outra filosofia que a das sensações.
É difícil escrever neste contexto, sobre a vereda estreita do erótico e o tema prestava-se, tratando do promíscuo relacionamento e do sexo em comum, mas o livro deixa os voyeurs desapontados, evitando o óbvio, por haver sempre um modo subtil de a realidade ser contada e a imaginação poética poder recriar aquilo que as palavras não têm prosaicamente de dizer com quatro letras.
Diferentemente dos que fizeram carreira literária ao som de palavrões e brejeirices, vinte anos de escrita em Rita Ferro souberam mantê-la em Literatura, mesmo quando crítica, ainda que irónica, dentro dos limites da boa educação.
Lê-se incessantemente este 4 & 1 Quarto, título bem conseguido que a fulgurante capa melhor ilustra. Não há neste modo de screver desagregações do verbo, nem volteios barrocos de forma, a acção surge fluente, o leitor progride, ansioso de antecipação, a escrita não pesa, leve, pesa sim o que é descrito.
Ao comemorar vinte livros, surge-nos a novidade de uma outra autora. Parabéns e longa vida, Rita Ferro!