Na FNAC, penso eu, há algum tempo, deram-me um livro que a D. Quixote editou, traduzido por António José Massano, chamado História Secreta de um Romance. Escreveu-o Mario Vargas Llosa. Foi oferecido para comemorar o Dia Mundial do Livro.
É tão pequeno em dimensão como grande em conteúdo. Trata-se de um conferência que o autor proferiu «em inglês rudimentar» na Washington State University em 1968. Nela, Llosa não conta propriamente como é que, entre 1962 e 1965, escreveu o romance A Casa Verde. Conta, sim, de que é que os romances são escritos, para que se perceba que o são com a pele do próprio autor.
A imagem que usa é duplamente atractiva, como conceito e como imagem, comparando o escritor à rapariga do strip tease. Com diferenças: o romancista não exibe os seus «encantos secretos», mas sim «os demónios que o atormentam e obcecam» e ao contrário desta, o escritor começa nu e termima completamente vestido, sabendo disfarçar, com a roupagem da escrita, «as experiências pessoais (sonhadas, vividas, lidas) que constituiram o principal estímulo para escrever».
Encontrei-me com ele hoje no Corte Inglês, por duas vezes. Primeiro, num filme do Almodóvar, Abraços Desfeitos, que é, afinal, a história precisamente da mesma ideia, na forma de um escritor cego e seu passado, como Homero o seria. Enquanto fazia tempo, viu-o na forma de um livro seu, que reune notas de leitura: La Verdade de las Mentiras. É uma incitação e uma sedução relativamente à leitura.