Livro pequeno mas que esgota muito tempo a ser lido, como quando se caminha pela areia de uma praia, as pernas pesadas a arrastarem-se, os olhos postos no mar, o horizonte móvel parecendo fixo.
A invenção de Morel é uma máquina que anula a ausência, tornando o presente eterno através da «conservação indefinida das almas em funcionamento», ilude a distância e gera o aparente instantâneo.
É uma forma de «dar perpétua realidade a uma fantasia sentimental» numa ilha povoada, afinal, de reproduções vivas, espécie da caverna platónica com a diferença de que as sombras do reflexo ganham forma e corpo como o de Cristo pelo mistério da transubstanciação, mas aqui num mundo desertificado em que os seres não são pessoas mas apenas a possibilidade de serem sonhadas.
No final o herói sobrevive, dá-se por morto para não morrer. Um livro extraordinário.