Anos a fio Fernando Pessoa pensou na criação de uma editora, que foi idealmente a Íbis e depois disso a Olissipo. Concebia tais delirantes projectos como uma via de «rectificação pessoal». Sistematizava o sentimento criador, embalsamando a que se adivinhava um nado-morto. Entretanto escrevia muitíssimo mas publicava quase nada dessa escrita, vadiando a sua genial hesitação.
A editora, concebida grandiloquentemente, seria, no mundo das coisas práticas, sempre ele só, multímodo e omnipresente, desdobrando-se-lhe as personalidades.
Falhou tudo excepto as poucas e geniais edições: A Invenção do Dia Claro, de José de Almada Negreiros e as Canções de António Botto.
Depois fica para a História o que António Mega Ferreira compilou para um livro que a Assírio & Alvim publicou em 2005, sob o tíítulo Fazer pela Vida: um retrato de Fernando Pessoa o empreendedor, no fundo o relato de um mundo que poderia ter sido.