Quando morreu, Vergílio Ferreira deixou um livro quase completo, um volume da sua série de textos antes publicados, que se editaram sob o título Espaço do Invisível, e um outro, ainda embrionário, em cinquenta e seis folhas soltas, para o que projectou várias alternativas de título.
A Bertrand editou-o em 2001, sob o cuidado de Hélder Godinho, com o nome Escrever.
Li-o a sublinhá-lo e a anotar à margem o tema, digamos assim, de cada uma dessas reflexões. Muitas têm a ver com a velhice, bastantes com a morte. O autor sabia que iria até ao fim.
São pensamentos daquele para quem «escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve».
Um livro destes corre o risco de desaparecer. As pessoas interessam-se pouco pelo se pensa, menos ainda quando o pensamento é solto, vadio, não sistematizado, em suma, livre.
Vergílio Ferreira escreveu sobre o amor. Um amor triste, impossibilitado. «O amor é um impossível que a possibilitação destrói». É o impossível «que jamais terá fim».