Perdido em revisão de provas, sem tempo para vir aqui, acredite-se, lembrei-me de ter encontrado há uns anos em Londres a edição facsimile do poema do T. S. Eliot, The Waste Land, com notas de revisão do Ezra Pound. Ao passar pela caixa registadora o empregado, um jovem, lançou-me, guloso, os olhos ao livro. «Onde o encontrou?», perguntou-me subitamente entristecido. Respondi: «ali, atrás de uma pilha de outros, caído».
Coitado dele, sonhava tê-lo há anos e agora era eu quem o tinha na mão e o ia levar. Hesitei. Não fui capaz. Dei-o depois à minha filha para não ser eu ladrão de um livro alheio.
Era dele a obra, pela lei da precedência do desejo sobre a posse.