Num blog que se chama Geometria do Abismo escrevi sobre ele: «se há momentos de uma filosofia que marcam um destino, o que ele escreveu sobre o mal do positivismo traçou-me a rota mental». Devo-lhe pois tudo.
Sim, foi António Quadros quem me deu a conhecer a filosofia portuguesa, quando ela já era um corpo sedimentado e sistematizado. Pela sua mão fui percorrendo os caminhos de um Leonardo Coimbra, Álvaro Ribeiro, Santana Dionísio, José Marinho, para chegar a Brás Teixeira, Sinde Monteiro, Elísio Gala, a tantos outros que estou a ofender não lhes mencionando o nome. Conheci entre os vivos apenas Pinharanda Gomes, porque o entrevistei. O meu modo isolado de ser vedou-me outras companhias.
Guiado pelas veredas íngremes da saudade e pelas alturas da Tradição, desvendando lápidas ocultas e submetido a sortilégios e outros encantamentos de um mundo maravilhoso, foi sobretudo através dele que aprendi que só há uma filosofia magnífica da existência fora do que sofremos ser o raquitismo do existente, nas terras a que a razão não ascende, de que o racional ignora os segredos.
A transcendência do humano alcança-se com essa leveza de asas, o céu como horizonte.
Pressente-se quando por detrás de um sistema tranquilizante está uma angústia mansa. Eis a biografia deste homem. Um grande Homem. Deixou, mais do que uma obra, um exemplo. Faz hoje dezassete anos que se escondeu da nossa visibilidade para que o recriássemos com os remorsos da nossa memória. Ficou a obra como testemunho de que esteve aqui.