São cartas, de uma viuvez em que ficou o corpo tendo-se ido o ser, cartas de uma saudade agora irrealizável, a geologia empedernida da fome, carnal, o anseio e tantas formas «de tu dizeres não», cartas de um lugar ainda guardado na cama, tacteado no sono para ser mais vazio com a consciência ao despertar. Cartas incluindo a décima e última incompleta, fantasiadas como se guardadas por uma filha e não houve filha e procuradas por um amigo, o juiz aposentado, Rodrigo Xavier, para que possível fosse então entender o Para Sempre, talvez o seu mais doloroso romance, de que ele é personagem, carta de quem foi professor e ele foi professor.
Cartas a Sandra. Vi ontem que foram reeditadas mas ainda as tenha na edição da Bertrand e nem sei como foi possível terem chegado à sétima edição e talvez mais, cartas de um amor tão potente quanto dorido e afinal monótono, nascido na súplica e hesitante preparação, e a dádiva enfim como recompensa de uma tal dedicação.
Livro sobre a rejeição e a presença, obra de quem «amava estupidamente o que me doía», escrita sobre o ciúme da felicidade com o outro, a alegria breve, Paulo, perdido, regressado ao seu sombrio «até regressar à posse de mim», e Xana, a filha «a oculta face do seu real». Não sei que adjectivo exista para este livro de silêncio.