Comprar livros que já temos e que julgamos já ter em mais do que um exemplar. Mas comprar porque a capa é encadernada e a encadernação atrai, no caso um esboço de colunas romanas, e tentam sê-lo, no caso as do templo de Diana e o livro é a Aparição de Vergílio Ferreira.
Comprar, mau grado o livro ter-se vulgarizado, tão obrigatório como livro escolar, e correr o risco de se tornar odiado e depois esquecido, apesar de ser do autor o que se tornou mais reconhecível e com ele indissociável porque é a narrativa de um professor, como ele foi, e em Évora, onde ele esteve.
Comprar assim, porque é assim que se mostra aos próprios olhos ser definitivo o primeiro momento, em que a «mão de semeador bíblico» de um dos figurantes do romance me marcou definitivamente a sensibilidade e o livro se me impregnou como uma pele, arrastando consigo a imagem e o símbolo e o modo de expressão e com tudo o que é a grande Literatura e um notável escritor e depois disso acumulei, um a um, o que não consegui ser a obra toda.
«Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro», assim abre o livro. Como neste instante. A memória está apagar-se. Talvez por pressenti-lo comprei ontem o mesmo livro. Sabendo que o tinha. Para que perdurasse a ideia de que o tinha. Não nesta edição que aqui publico, Uma outra. Mais uma edição do mesmo texto.