Precisamente neste dia, 23, no ano de 1992, Vergílio Ferreira encerrava a sua "Conta Corrente", o controverso diário, que saiu em duas séries, pela Bertrand.
Controverso porque intrinsecamente verdadeiro naquela força interior, surgida das entranhas dos sentimentos, mesmo os mesquinhos, que um Homem integral não é só feito de grandeza, a fomentar desencontros e rancores, vindictas mesmo.
Era uma quarta-feira.
«Quando é que acaba com isso», perguntara-lhe, amigo, Eduardo Lourenço, dorido por sabê-lo enclausurado na obsessão e vítima do próprio vício.
Acabaria no final desse mês não sem uma íntima revelação do que seria, depois disso, um seu livro póstumo: «A propósito. Desisti definitivamente das "Cartas a Sandar". Estou fora de jogo».
Terminou o que fora, em vida, uma "Alegria Breve": «Seria, aliás, edificante, que à aproximação do Natal eu acabasse em cânticos à alegria», desejou-se ele, bem sabendo que visava o impossível. E tanta coisa. «E de na execução da minha vida sem sentido poder dizer como Deus que tudo está bem».
De todos os livros que julgo ter lido, e de que me vou esquecendo até dos títulos, de todos quantos se interiorizavam em mim fazendo o que sou, escolhi este. «Alegria, alegria. Vou pensar com muita força que ela existe e me pegou ao colo. E que eu sorri.»
Bom Natal a todos.