Com imprimatur da autoridade eclesiástica, firmado a 1 de Janeiro de 1920, por D. António, Bispo do Porto, o bom do Padre José Ribeiro d'Araújo, já em Ovar e longe do lugar de Perosinho, seu rincão natal, onde pastoreara o rebanho do Senhor, deu-se, como alguns dos seus ilustrados confrades de sotaina, a trabalhos de História e Etnografia.
Aventurou-se pelos tempos primitivos, aventando que talvez pelos tempos dos Celtas ou dos Iberos o lugar fosse primitivamente habitado, louvando-se numa mamoa existente pela Barrosa (em Mathosinhos, como escreveu na grafia da época). Para que confusão não haja direi que mamoa é cabana megalítica do tipo dolmético.
O livro foi-me oferecido pela Biblioteca local, esforço comunitário civil autónomo e porfiado, em generosidade ante uma palestra que ali proferi, gente da alma desses construtores que deram ao País vida, oriundos dos Nortes adversos.
Li-o, com o gozo mouro de quem passeia tentando descobrir sob o alcatrão e por entre os interstícios do betão armada um mundo que foi; o gozo e o riso porque, verdadeiro manancial de antiguidades, há nele que dê para uma alma cândida sorrir por várias horas.
Desde crendices como «quando o cão estiver a uivar, o que é sinal de mau agouro, para ele se calar, deve colocar-se um chinelo com o salto para cima» - o que é já esta noite que porei em prática ante um canídeo circundante que ladra com lua ou sem ela pelas horas do sono, até à história do Mysterio, o bruxo que em 1919 se estabeleceu em Canelas, lugar da zona de Gaya (assim mesmo, aquilo que é hoje Vila Nova de Gaia, aliás cidade) e de quem corria folheto segundo o qual «Vive há tempos em Perosinho/No logar de Brandariz/Um ser bem piramidal/Como há poucos no paiz/Quem elle é vou dizê-lo/P'ra que possaes conhecê-lo/É formado em intrujice/P'la Universidade das Lérias/Onde aprendeu a curar/Das humanidades as misérias!!!/E, se alguma vez não erra/Teria fama em toda a Terra [etc., etc.].