Revi-o esta noite naquele instintivo procurar noctívago. É um editor que escreve sobre o que é a edição. Serafim Ferreira fala de si e fala de todos os outros, os que "endividados como uma mula" - na magnífica expressão de Luís Pacheco - fizeram com que do chiar dos prelos viesse à luz do dia o alimento de que o espírito vive, arriscando quanta vezes tudo, tornando livro o que era o garatujar caótico e suas irrequietas emendas, fazendo obra daquilo que lhes era entregue em tímida hesitação inacabada, acumulando sobras, escapando ao cerco dos calotes e das falências, entre as livrarias que já não conseguiam pagar, os autores que nunca conseguiriam vender, os distribuidores para quem a edição é mercado, e sempre, sempre a fazerem livros para que outros lessem o que eles gostavam de ler e quantas vezes contra isso porque havia a factura a vencer-se, a letra comercial em vias de protesto.
Tempos de provas e suas emendas, tempos de caixa alta e caixa baixa, tempos do Linotype e depois do offset, tempos de um Gutenberg eternamente a renovar-se, tempos em que os sentimentos à flor da pele o editor - ó vezes! - se fazia escritor, fazendo o escritor escrever, ensinando o escritor a escrever para que se lesse.