A razão pela qual compro tantos livros, mesmo os que sei não irei ler tão cedo e talvez não venha a ler nunca, é porque o tempo de sobrevivência neles nas livrarias é diminuto, como borboletas cuja vida se perde em dias; e dos antigos é raridade achá-los por vezes nem em alfarrabistas, e nem sempre é possível ir lê-los a bibliotecas pública quanto fazem falta ou quando nos apetece.
Veio isto a propósito de edição de autor, da conferência proferida, a 16 de Maio de 1945, no Salão da Faculdade de Letras de Coimbra, a convite da Associação Académica, de que viria a ser o primeiro presidente eleito da mesma Francisco Salgado Zenha que, em apêndice ao opúsculo, publica «uma carta» de enaltecimento do discurso escutado. De facto, à data a Associação Académica encontrava-se há nove anos sujeita a uma Comissão Administrativa nomeada pelo Governo.
Leu-a António Macedo, um advogado que já havia editado na Biblioteca Fenianos no mesmo ano uma monografia sobre Direitos da Criança, e que viria a ser após 1974 destacado dirigente dos primórdios do Partido Socialista Português, dedicaria o exemplar que me coube encontrar ao «Dr. Constantino Fernandes», outro Colega de profissão, que entre 1957 e 1962 presidiu ao Conselho Distrital da Ordem dos Advogados, traria naquela sua alocução uma palavra de «confiança» ao seu jovem auditório, e de «coragem», culminando a sua intervenção citando António Sérgio: «Abramos as janelas que os nossos avós sistematicamente cerraram».
Zenha, no seu estilo já então ironicamente ácido, deter-se-ia sobre o anacronimso do ensino então ministrado, as injustiças que dele decorriam, não deixando de citar, com acinte, um trecho da Reforma Judiciária de 1944, que, a propósito do ensino do Direito o considerou «bagagem de conhecimentos, simples erudição mais ou menos livresca, sem verdadeira compreensão do que se diz».
Livro diminuto nas suas sessenta e quatro páginas é testemunho de um tempo de luta e de pálida expectativa que o fim da guerra parecia proporcionar.