Passei o ano a ler um livro. Motivo de alegria. Acto simbólico. Porque nem sempre a profissão dá tempo e há que resgatar tempo para poder ler, por gosto, vários livros ao mesmo tempo, debicando como os pássaros.
Desta vez comecei esta manhã e antes da meia noite tinha terminado. E com tantas outras coisas pelo meio, até tempo para dormitar.
O livro é nostálgico, sofrido. São memórias, em forma de diário, varridas pela tragédia da morte da que foi a companheira de mais de cinquenta anos.
Eugénio Lisboa encerra assim o Acta est Fabula, título que deu aos volumes que foi regularmente confiando à Opera Omnia, a editora de Guimarães que, lutando contra as vicissitudes do mercado, cuida da sua publicação.
Dir-se-ia que não é leitura que se deva ter na passagem do ano. Mas é precisamente a leitura que, a ter acontecido com a passagem do ano, dá ao novo ano o valor da esperança.
Livro de dor desesperada, é testemunho de amor que não não permite luto, exaltação de carinho, exemplo de humanidade.
No meio, claro, as obsessões literárias do autor, cruas no modo de dizer, algumas a fazer surgir a clareira soalheira do riso. Assim a vida, assim estes dias de Inverno, assim em breve a Primavera...