Que posso dizer quando leio Agustina Bessa-Luís, mesmo pequenos textos de pequenos livros quando em cada um, quase diria em cada linha, encontro uma ideia, uma sensação, um sentimento, que dariam para parar, tempo de reflexão e de enamoramento e a leitura se adensa e caminha devagar?
Trouxe o Caderno de Significados, pela única razão de ser de aparência diminuta e cansa, trazer para regressarem não lidos aqueles livros para os quais, extensos sendo, não se encontra tempo, na escravidão em que se tornaram as nossas vidas para ler, folheando apenas que fosse.
E pela tarde morna de sonolência e durante a noite irrequieta de insónia prossigo pelas suas cem páginas e ainda não terminei, lendo ao acaso tal como ela parece ter escrito, notas e crónicas «em folhas soltas, em cadernos de notas, em espaços brancos de impressos, em margens de livros, dispersos em pastas de congressos, em gavetas de móveis».
Direi que de tanto ficou neste momento a escrita sobre a escrita e desta o modo de escrever: «a importância da ortografia é a importância do nascimento [...]. Eu tenho a mesma letra dos meus cinco ou seis anos, miúda, desenhada como o arco-íris num rio. Aprendi assim a jactância dos efes, a morbidez dos ás, os bês abaciais e o tê que parece um Quixote com a sua bacia de barbeiro na cabeça».
Que melhor e mais magnífico poderia ler? «Quem não ama a ortografia não respeita a cultura, peregrinação nas matas do alfabeto».