Parei de ler o que me foi possível ler do livro do Onésimo Teotónio Almeida sobre as Correntes de Escrita, que saiu agora em Fevereiro de 2019. Tinha acabado de ler grande parte de um livro seu sobre Darwin & Marx, que me entusiasmou, tal como este me está a desapontar. Os textos daquele outro eram antigos já, mas as ideias permaneciam novas. O estilo coloquial convidava à leitura. E foi assim que, entusiasmado, entrei neste.
Dizem-me, e nota-se, que Onésimo cultiva o humor como método e objecto. Só que o humor pressupõe doses calculadas, sob o pena se tornar vulgar e perder a graça. E por aqui abundam piadas e anedotas a ponto de a sua aparição perder impacto.
A ironia é forma de sabedoria ou de entretenimento, consoante o tempo de maturação ou a oportunidade. A chalaça, que é a sua forma vulgar, maça muito e ensina pouco e a sua repetição faz perder a vontade de ouvir. Há por aqui um pouco de tudo. Percebe-se que o propósito é ilustrar uma ideia; mas há o risco de o leitor se ficar pela superficialidade do riso.
Sei que estou a ser antipático quando, por regra, encontro sempre algo de positivo nos livros que leio e seguramente injusto, pois quando iniciei a leitura estava entusiasmado ou talvez bem disposto e disponível para ser contagiado. E nem o autor nem os editores da Opera Omnia merecem isso.
Mas hoje está a chover, fiz centenas de quilómetros em trabalho e nem sempre temos boa-disposição.
Tenho o livro aqui ao lado, sublinhado e com textos ainda por ler. Vim aqui escrever isto por ser típico sentimento de leitor. Ao contrário do crítico que, se honesto, deve ler integralmente antes de formular juízo, o leitor pode maçar-se a meio ou, para ganhar vontade que sente escoar-se, recomeçar a leitura do fim para o princípio, contando da última folha ou de cada dos dos capítulos. Como um caranguejo, como o livro que Caranguejo se chama, do Ruben A.
Voltando às Correntes. Suponho que o que aqui aparece escrito tenha causado vivo efeito quando dito em discurso oral. Falta aqui a pausa e a expressão, o semblante e o gestos. Talvez por isso nas redes sociais se escreva (risos) quando queremos dizer, sem um emoji que nos rimos. E eu não estou a rir. E hesito em guardar o livro ou regressar à sua leitura para não desanimar.