Ele há coisas que não lembram ao Diabo mas é pena. João Pedro George teve a notável ideia de ir aos livros - imensos livros - e deles copiar as contracapas e as badanas - "orelhas" se lhes chama no Brasil - e com base nisso, ficheiro organizado, deu-se ao risonho desfrute de pôr tudo junto com separadores de comentário em estilo sulfúrico, por vezes sulfídrico. E deu azo a um estilo que vale a pena.
O resultado é gargalhante, arrasador, total gozação.
À força de estereotipar alusões, os criadores desses excertos sincopados de prosa que são as badanas e as contracapas caem no ridículo de se repetirem em menções a virtudes, méritos e excelências do autores de livros que aquela breve prosa anuncia, aliciando o leitor, trompeteando o valor da obra.
Se cada uma já leva ao riso, ao vê-las todas, em catadupa, é a desbunda total. Sobretudo pelos prodígios de reieteração aduladora.
João Pedro George deve ser uma criatura detestada na «nossa pequena aldeia literária» e dá mostra de ter nisso um secreto gosto, ou talvez, suponho, um público júbilo.
O livro deixa-se ler. Vou a meio da primeira parte. A segunda é dedicado a um tema que a sua minúcia descobriu ser desabotoadamente transversal aos nossos autores: as mamas. Espreitei-a, apenas, como quem não vê.
Se a escrita sobre as badanas e contracapas terá sido fácil na construção, pois bastou copiar, fichar e organizar, juntando-lhe o anteparo da ironia, aqui o esforço de sustentação foi tremendo, pois todas elas são tiradas do miolo das obras de onde surgem - qual cena felliniana no Amarcord - imensas, protuberantes, esquálidas, de variada volumetria, a mostrar a obsessão peitoral dos nossos escritores. Normal, como nos românticos as mãos, ou em Eça os delicados pezinhos.
De facto, ele há coisas, essas sim, do Diabo, felizmente.