Li "O Barão" e já não fui capaz de ler os dois contos que com esta novela completam o livro. Edição pobre, papel amarelecido, formato bolso, corpo felizmente largo para ajudar à leitura, o que não seria necessário porque neste fim de tarde de Domingo comecei e consegui chegar ao fim ansioso por regressar. E leio pausadamente.
A escrita é torrencial na sua cadência por locais oníricos, a cena em crescendo de enigma a ter o seu epígono numa noite alcoolizada, a trama a crescer e sem caminhar definido por onde segue, viagem em busca da memória do amor idealizado, o amor retraído.
O que seria a narrativa de uma visita oficial de um sorumbático inspector escolar a uma remota aldeia pelas terras do Barroso dá um viagem fantasmagórica pelo enigma e pela luxúria, longos corredores vazios e seu silêncio, o solar decadente onde a vida de há muito decaiu, correrias pelos esconsos do medo e enfim, a queda e a fractura, a morte, os caminhos sombrios do sonho e da loucura, o barão carnívoro insaciado, a desbragar-se em aviltamento e afinal em sofrida carência de companhia.
António José Branquinho da Fonseca, filho do escritor Tomás da Fonseca. Licenciou-se em Direito mas foi do mesmo escasso praticante para além de funções públicas a desaguarem, porém, no serviço cívico a que deu vida, o das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que tanta oportunidade deu a que se lesse onde, ao tempo, a leitura não chegava.
Fundara a "Presença", dela sairia com Miguel Torga. Ao chegar à Fundação em 1958 não mais publicaria. O seu livro "Bandeira Preta" é de 1956.
Dir-se-ia que o escritor se sublima aqui e se redime do pecado do convencional.
A capa do pequeno volume, desenhada em boleadas curvas languescentes, não vem assinada e é pena. Está ali, num traço, a lascívia do lugar e a que caminha ondulante e deixa atrás de si o momento de silêncio: Idalina, serva e dona, um breve instante, a ambiguidade provocante do quase.