Releio o livro e reler livros é sinal de algo havia neles que deixou marca ou algo em nós que nos levou ao seu reencontro. Tinha escrito sobre ele, neste mesmo espaço há dez anos, no mês de Junho.
Cruzei-me com o seu nome quando em 2001 escrevi o livro Espião Alemão em Goa, publicado esse ano em primeira edição, pela extinta Hugin e reeditado pela Oficina do Livro em 2011.
Na altura correspondi-me com seu filho Alfredo de Melo, a viver no Urugai e que consegui localizar durante a investigação para a escrita.
A narrativa centrava-se em torno do ataque, efectuado por um comando do SOE, o serviço clandestino britânico sediado em Calcutta, aos navios cargueiros alemães Ehrenfels, Braunfels, Drachenfels e o italiano Anfora, que tinham procurado o porto neutral de Mormugão quando do início da Segunda Guerra e ali permaneciam em 1943, confiados à protecção da nossa bandeira. O propósito oficial era a neutralização de um emissor clandestino que difundia informações sobre o tráfego naval no Índico a partir de uma rede de espionagem organizada em Moçambique.
História de guerra secreta, foi também a de um grave conflito diplomático com Portugal, dada a neutralidade portuguesa e a circunstância de se tratar de um acto ilegal de pirataria praticado pela nossa mais velha aliada.
Ante o ataque, a tripulação, obedecendo a instruções, incendiou os navios e afundou-os, para que não fossem capturados.
Isso originou um processo judicial no julgado de Mormugão, que deu azo inclusivamente a um recurso da pronúncia que chegou ao Supremo Tribunal de Justiça e ao que seria um grave erro judiciário não fosse a intervenção do Governo português.
No rescaldo do incêndio, os feridos foram evacuados para terra e aí a intervenção do médico Dr. Froilano de Melo, director do hospital.
«Na verdade, o próprio Governador Geral, em acto seguido ao incêndio dos navios telefonou para a residência do Dr. Froilano de Melo, director do Hospital, a solicitar uma intervenção clínica, no local, ao que este acedeu, fazendo-se ajudar pelo Dr. Pacheco de Figueiredo, lente da Escola Médica»
[...]
«Numa das lanchas dos serviços de saúde, Alfredo de Mello, então um jovem estudante de medicina, acompanhando seu pai, o médico Dr. Froilano de Mello, tentaria estacar o sangue a um dos marinheiros do Ehrenfels, mas este esvai-se por uma hemorragia da artéria femoral e morre à vista da Fortaleza dos Reis Magos. Seria seguramente o marujo Paskarbeit».
Quiseram as voltas pelas livrarias e alfarrabistas que me cruzasse com este seu livro, editado no Porto em 1946 e com dedicatória firmada em Nova Goa na Páscoa de 1944.
Dedicado à mocidade de Portugal, é obra de ternura e exaltação ante a obra poética de Rabindranath Tagore, elegia final «de que a Índia do futuro venha a ser o que foi a Índia do passado» não «a Índia de hoje, fragmentada, deprimida e espezinhada, e pátria do indo-ária do período védico era [da] Imortalidade nos novos Céus radiosos e eternamente iluminados».
Mas não se resume a isso e seria muito, a meditação sobre o ensinamento do iluminado bengali que Froilano leu em tradução por não dominar a língua original.
Verdadeiro guia espiritual, a acompanhar da infância à morte, encontra na poesia, na música, no pensamento, na escrita tagoreanos, ensinamento e conforto para a caminhada pela vida terrena e a preparação para o momento da morte, o momento em que «a entrada na Eternidade é a absorção na Imortalidade pregada por todos os sábios e filósofos da sua terra! Absorção calma e serena, que nem anseios pela felicidade subjectiva, nem as tristezas da vida terrena, podem jamais atingir».
É precisamente o capítulo final, antes do epílogo, aquele em que, qual cume da ascese, a obra atinge o seu mais elevado momento, ao focar-se na morte terrena, intervalo de uma vida quotidiana que «é uma série de mortes e de renascença».
Ou como canta o Bhagavad Gita, ali citado «Não nasceu, nem morre! E não tendo princípio, não cessará de existir. Incriado, eterno, antigo, permanente, fica indestrutível quando o corpo é destruído. Não o atinge a ruína, não o queima a chama; não o humedece a água, não o seca o vento».
Dedicado à mocidade de Portugal, é obra de ternura e exaltação ante a obra poética de Rabindranath Tagore, elegia final «de que a Índia do futuro venha a ser o que foi a Índia do passado» não «a Índia de hoje, fragmentada, deprimida e espezinhada, e pátria do indo-ária do período védico era [da] Imortalidade nos novos Céus radiosos e eternamente iluminados».
Mas não se resume a isso e seria muito, a meditação sobre o ensinamento do iluminado bengali que Froilano leu em tradução por não dominar a língua original.
Verdadeiro guia espiritual, a acompanhar da infância à morte, encontra na poesia, na música, no pensamento, na escrita tagoreanos, ensinamento e conforto para a caminhada pela vida terrena e a preparação para o momento da morte, o momento em que «a entrada na Eternidade é a absorção na Imortalidade pregada por todos os sábios e filósofos da sua terra! Absorção calma e serena, que nem anseios pela felicidade subjectiva, nem as tristezas da vida terrena, podem jamais atingir».
É precisamente o capítulo final, antes do epílogo, aquele em que, qual cume da ascese, a obra atinge o seu mais elevado momento, ao focar-se na morte terrena, intervalo de uma vida quotidiana que «é uma série de mortes e de renascença».
Ou como canta o Bhagavad Gita, ali citado «Não nasceu, nem morre! E não tendo princípio, não cessará de existir. Incriado, eterno, antigo, permanente, fica indestrutível quando o corpo é destruído. Não o atinge a ruína, não o queima a chama; não o humedece a água, não o seca o vento».