São aquelas edições belíssimas da brasileira Aguilar que a nossa Lello também tinha, encadernadas a sangue de boi, gravadas a ouro velho!. Comprei nela o saltitante Almada Negreiros, não o bisonho Pessoa, ontem atrevi-me e trouxe o desesperado Mário de Sá-Carneiro. Tudo tem uma explicação. Do Pessoa não comprei porque, com tanto escrito póstumo ainda a sair-lhe ainda da arca literária, desconfio das «Obras Completas», que o homem, como se mediúnico fosse, só pode ainda escrever em morto, produz ectoplasmicamente post-cadáver. Mas trouxe o Mário de Sá-Carneiro, porque me quiz oferecer uma prenda de aniversário e porque, folheando-o ainda na livraria, ali estava, esfíngica nótula introdutória, feita pela mão do próprio Pessoa, aquele «quem ama, ama só a igual, porque o faz igual com amá-lo», tragédia de todos os amantes, morte de todo o amor. Mário de Sá-Carneiro suicidou-se, envenenando-se, no Hotel de Nice, em 26 de Abril de 1916. Foi enterrado no Cemitério de Pantin, em sepultura que desapareceu em 1949, o ano em que eu nasci.