Zangado com a vida e irritado com o mundo, estive a arrumar os livros que se amontoam no meu quarto, perto da cama, para que eu os leia em vez de adormecer. Separei os que ando a ler, melhor dizendo os que quero mesmo ler até ao fim, pois há alguns, enjeitados da sorte, que não passam das primeiras linhas. Não é que nelas se perceba a inutilidade do resto, é só porque nelas está contido tudo o que haverá de útil para ler. Um, por exemplo, dizia assim, em jeito de dedicatória, na primeira edição: «ao meu cão Pym» e na segunda «àqueles simpáticos seres humanos que perguntaram quem era o meu cão Pym». Li-o nos tempos em que frequantei uma agremiação chamada «Centro de Estudos de Cibernética», albergada numa saleta do Instituto Superior Técnico. Não era do Gordon Pask, nem do Collin Cherry, nem do Bertalanffy, nem do von Neumann. Pronto, não sei de quem é, mas lembro-me do resto, como por exemplo a dedicatória. Nessa altura eu acreditava na segunda lei da termodinâmica, a da desordem entrópica do universo. Hoje convivo com ela, fazendo disso modo de vida, com uma vida de cão, pior que a do Pym!