Hildegard Bettencourt e Fernando Lopes Graça traduziram «Tristão», um magnífico pequeno conto de Thomas Mann.
É uma história de um amor trágico, vivida num sanatório. Li-o esta noite, impressionado com a força narrativa com que o autor de A Montanha Mágica consegue acompanhar o caudal dos sentimentos amorosos, ao mesmo tempo que a personagem feminina da história arranca do piano o equivalente a todo arco orquestral do segundo acto de Tristão e Isolda, e surge então, o mistério sagrado da consumação o «despertar da paixão» subindo e elevando «em êxtase até à inefável união», uma música e um momento em que «duas forças, dois seres distantes aspiravam, no sofrimento e na felicidade, à união, e abraçavam-se num desejo louco e arrebatado do eterno e do absoluto». Gabriela morre, de tísica e de aniquilamento, consumida pela «vida vulgar, ridícula e, contudo, triunfante» de um casamento infeliz, uma vida profanada pelo «irritante simplismo», pelo «quotidiano vulgar», pelo que é, em suma, a «eterna antítese e o inimigo mortal da Beleza».
Lê-se como se seguisse a pauta da partitura, a poética e a música uma e a mesma forma de dizer.