Há daquelas coisas de que uma pessoa se esquece o que são e depois, quando as reencontra, se penaliza pela amnésia. Uma delas aconteceu hoje, ao comer uma coisa gelatinosa e fibrosa e quase nada saborosa, em que o dente tinha dificuldade em entrar e que no final da refeição deixou o sentimento do vazio que é o prenúncio da fome.
Chamam-se caras de bacalhau.
Ora eu, que nem faço má cara à comida, porque desde pequeno aprendi a lição o que tu pesquinhas há muito quem queira, foi só mesmo em nome desse princípio que lá ingurgitei as ditas caras, empurrando-as com feijão verde, uma batata e ovo cozido na esperança de criar lastro, como se faz no porão dos navios que vogam sem carga.
Regressado, aqui estou com um vago sabor a bacalhau no palato e, por associação de ideias, um travo de Terra Nova, sonho de novidade vivido na solidão de um dóri, de pescador à linha.