Depois de ter gozado mais do que a lei manda, Luiz Pacheco dedicou o Diário Remendado «ao Senhor Doutor João Pedro George, colaborador impecável, meu biógrafo improvável», que escreveu o que chamou de «posfácio» de tal obra. O mesmo George edita-lhe agora, com uma introdução, algumas das pachecais entrevistas, num livro tirado pela Tinta da China, belíssimo como todos os livros dessa editora. Vale a pena ler a introdução. E vale a pena notar o aparente fair play de quem foi tratado, precisamente numa entrevista ao JL por «uma espécie de índio chupista». E como se já não bastasse, arrumou-lhe com: «O gajo sabe mais de mim do que eu. Mas isso do posfácio também não interessa: a malta lê meia dúzia de páginas do Diário e larga, ninguém chega ao posfácio».
Interessante, sim, a introdução dizia eu nesta manhã meia confusa de ideias, a escrever depois das onze como se fosse pelas onze de ontem. Nela João Pedro fala de Luiz a propósito da «comercialização da excentricidade», refere-o como «escritor maldito» quando fala na «maldição como estratégia de legitimação», trá-lo a nós leitores como alguém que tem «um grau de liberdade a cujo luxo os outros não se podem dar». Estão quites eles também.
O livro chama-se O Crocodilo Que Voa.
P. S. Uma coisa é interessante, sim, esquecia-me. João Pedro George desmascara quantos andaram a provocar o pior de Pacheco, a viperina língua, o escárnio permanente e quantos fizeram à sua conta manchetes e títulos de sensação! Desde o célebre título de primeira página no defunto O Independente:«Santana só fez merda na Câmara de Lisboa, mas eu acho graça a isso», até ao perguntar: «Quantas coisas fizeste de ilegal ou de condenável?» [Baptista-Bastos], «E vontade de matar alguém, já tiveste?» [idem], há de tudo. Um um crocodilo que voa, sim, mas por vezes muito baixinho.