O livro é pequeno mas, sobretudo, lê-se bem; como dizia alguém, com humor, «deixa-se ler». Esgotei-lhe as páginas em dois fôlegos. Apoiado em sólida bibliografia não cansa com despautérios de exibição erudita. Está, sobretudo, bem escrito. Trata-se do Bocage Maçon, de Jorge Morais, jornalista e escritor, prefaciado por António Valdemar, da Academia das Ciências. Foi editado em 2007 pela Occidentalis. Na capa um óleo figurando o biografado, da colecção do falecido Pisany Burnay.
Essencialmente a obra toma como sólida a filiação maçónica do vate Sadino, irmão «Lucrécio» da loja Fortaleza e dá-nos conta dos poucos sucessos e muitos insucessos decorrentes dessa circunstância . Mas a partir deste território é um ensaio interessante da confluência do iluminismo,do jacobinismo e da influência dos pedreiros-livres na formação do pensamento de Portugal no século dezoito. Além disso, aborda algumas outras problemáticas teimosas da História da pedreiragem no nosso país como a filiação maçónica de Pombal, a execução de Gomes Freire de Andrade e a origem, afinal inglesa, do Grande Oriente antes de o francesismo ter ocupado os ritos e as ideias dos «filhos da viúva».
Perseguido pertinazmente pelo Intendente Inácio Pina Manique, Bocage acabaria «cativo por convicções» por ser julgado pelo Santo Ofício, ao Palácio de Estaus e condenado em 17 de Fevereiro de 1789 a...um curso de doutrinação no Mosteiro de São Bento, onde hoje doutrinam os deputados na Assembleia da República. Aí fica até 24 de Março protegido por um beneditino.
Já para o final da vida, em 1800, Manuel Maria trabalha, em troca de soldada regular, na Oficina Tipográfica, Calcográfica e Tipoplástica do Arco do Cego. Um ano depois está desempregado. Foi enterrado no dia 22 de Dezembro de 1805.