Longe da solidão populosa das cidades da Europa, em 1939, em Oran, na Argélia, Albert Camus escreve. Um ensaio sobre os lugares sem poesia, em que as amendoeiras florescem, inesperadas, numa certa noite fria de Fevereiro e com elas a renovação prometida da beleza. Cidade sonâmbula e frenética, apetecida por um sol devorador que a calcina, pulvurenta, marítima. Capital do aborrecimento, o lugar do Minotauro, em que Atlas aguarda apenas a sua hora.
Há na potente escrita de Camus a presença sensível da luz e da cor, do odor de tudo quanto é humano, de tudo o que é a Natureza. Sente-se, trágico, o deserto a entranhar-se na alma e com ele o absoluto e o nada infinitos e por isso um mesmo ser.
Obstinados, o mar e as pedras prosseguem ali o seu diálogo de milénios, indiferentes ao irrequietismo pobre dos miseráveis humanos.
Voltando a este seu escrito de juventude, o autor de O Estrangeiro escreverá em 1953: Oran já não precisa de escritores; aguarda a chegada de turistas.