Em Outubro de 1975 o então Conselheiro da Revolução Canto e Castro definia Portugal de então como um «manicómio em auto-gestão». A 19 de Outubro, um domingo, o Sindicato dos Trabalhadores da Panificação definia: qualquer que seja a linha política governamental, os operários da panificação deixavam de trabalhar de noite.
Daí que, noticiava a imprensa, papos secos ao pequeno almoço era coisa que deixaria de haver. «Quem está interessado no trabalho nocturno? São aqueles que se aproveitam da escuridão da noite para poder livremente roubar ao peso do pão e falisificar as farinhas que nele são utilizadas», era o argumento utilizado pela comissão de trabalhadores em luta.
Leio isto no livro Os Dias Loucos do PREC, de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira, editado pelos jornais Expresso e Público, em Abril de 2006. Leio e lembro-me de ter visto alguém comentar então com humor o que era afinal o leitmotiv dos padeiros: «queremos dormir com as nossas carcaças! Ora aí está uma razão mais do que legítima, revolucionária ou não! Mesmo nos anos loucos do «processo revolucionário em curso», que triunfe o amor sobre o pão nosso de cada dia. Ri-te, ri-te, riri.