O último arquiva intervenções que tiveram lugar em Sesimbra, nos primeiros dias de Março de 2005, em torno do colóquio A Filosofia Portuguesa de Álvaro Ribeiro. Folheei o texto inicial, a conferência de António Telmo, para recordar um excerto que me tinha trazido a alegria breve de um riso. Refere-se a Álvaro como «(com Agostinho da Silva) o mais notável discípulo de Leonardo Coimbra». Na verdade aquele no seu livro Memórias de um Letrado, saído em três pequenos tomos, pela Guimarães, já havia confiado esse sonho de vir a ser assistente do autor de A Rússia de Hoje, o Homem de Sempre. Mas tudo começou num exame, o último do Curso de Letras da entretanto extinta Faculdade de Letras do Porto. Do júri fazia parte Leonardo. Conta Telmo: «Durante o interrogatório feito por Leonardo Coimbra o jovem estudante praticamente pouco disse. Não encontrava as palavras para o seu pensamento, hesitava, tartamudeava, fazia gestos». Terminado o exame, faltava a nota. Os três professores conferenciaram. Dois sugeriam uma negativa. Leonardo propôs: «vinte valores!». Claro que a ideia daria brado. «Vinte valores!, exclamaram eles. - Mas o rapaz não disse praticamente nada!». Mas Leonardo Coimbra tinha uma razão: «Não disse com palavras! E então os gestos?».
Á consideração dos espíritos superiores, já que, pelos vistos, o gesto é tudo.