Há quem leia para seguir a narrativa, outros o modo de dizer. No meu caso acabei por seguir de linha em linha ao encontro de uma expressão feliz. Li a história de Vicente, o corvo de taberna, o Corvo Taberneiro, o corvo que está na heráldica de Lisboa, Lisboa a República dos Corvos. É um conto triste, que termina com uma morte e com a sua tristeza desesperada, crucitante, ele «que até e lisboeta de nascimento é com grasnar de reguilas e tudo», agora, morta a galinheira, que era a sua companhia e o seu sustento «mantém-se à cabeceira da defunta, não consentindo que ninguém lhe toque e lançando, num crácrá aflitivo, a mais íntima e pessoal de todas as suas vozes».José Cardoso Pires escrevia com sumptuosidade. Uma sumptuosidade pesarosa, mesmo quando revoltada.