O que leva um autor a renegar um livro? Carlos de Oliveira escreveu o Alcateia em 1944. Retirou-o o do mercado. Em 1945 reeditou-o. Mas no final considerou que o livro não deveria integrar a sua obra. A Assírio & Alvim não lho editou quando foi paulatinamente dando à estampa o seu acervo. A Caminho, quando condensou tudo num só volume, também não.
Encontrei-o, ao livro proscrito, num alfarrabista, em segunda edição, na colecção Novos Prosadores da Coimbra Editora.
É um livro de sangue e morte e luta. «Se choro, é com raiva de não poder matá-lo outra vez», diz Leandro depois de ter mandado o Lourenção para o Inferno, esse «desgraçador maldito» que lhe apoucara a filha. Curioso por lembrar-me o Assis Pacheco e o seu Benito Prada.
Li pouco ainda. Vou na parte em que o povo se barrica na casa desse predador sem escrúpulo nem arrependimento, para que não caia nas mãos do Estado e se devolva aos roubados o que a usura do salafrário lhes roubou. Chega a Guarda e seus fuzis e o Administrador chega fogo ao local da barricada. Fogem como ratos, bravios, à cava.
Pobre livro, enjeitado.Recebo-o como a um órfão, tirado da roda dos expostos ou salvo dos lobos numa mata de urzes.
São maus os autores quando exigem e não perdoam. Perdem o tino do critério e afogam os filhos como gatos numa bacia, perdida a piedade humana e a capacidade de os amar.