Era um livreiro em dia triste, porque não se pode estar feliz quando há cada vez menos pessoas a ler. E tinha sido já editor. E é amigo de escritores. E teima em querer fazer amizade com leitores.
A sua livraria é dos livros que ele quer, não dos livros que os distribuidores acham que ele deve vender. Quanto ao que não tem, outros que tenham.
Hoje, a força das coisas trouxe-lhe uma inesperada visista. Vinte anos depois. Ela encontraria, surpresa, o próprio pai, numa fotografia amarelecida exposta ali com o carinho de uma memória estimada, ele encontrava, embaraçado, o Espírito que, como uma língua de fogo, o animava a viver.
«Coragem» diria ela, alma boa, desejosa de ajudar, animando-o. Atrapalhado ser, o seu coração descompassou, esperançado.
Talvez aguente mais uns tempos. Da próxima vez que voltar a Setúbal vou visitá-lo. Digo a todos que o visitem e lhe comprem livros. Há surpresas naquele pequeno lugar. Ontem estava lá, a espreitar-me, uma edição das primeiras da Aparição, ainda saída pela Portugália, no tempo em que os editores amavam livros. «O seu pai vinha muito aqui». Eu e a filha passaremos a ir também.