A República aboliu a fatalidade hereditária. Se vigorasse a lei do aperfeiçoamento das espécies seria um fantástico regime. Hoje, ausente da Pátria, e sem livros de que me possa socorrer, resta-me apenas recordar os intervalos dinásticos e aquele em que, pela regra da sucessão, perdemos a independência, e mais as leis do banimento. Ou então, para tentar estar contente, os momentos equívocos e embaraçosos em que se contrapõem na política legitimidade e conveniência: É o caso do Rei Carol, da Roménia, deposto. Um dia apareceu em Portugal, vindo de Espanha, fugido. Estávamos em 1941. A propósito, um jornal grego noticiava: «O ex rei da Roménia, Carlos, que há pouco tempo chegou a Lisboa com a sua mulher a ex senhora Lupesco (sic), pode em breve, se o quiser, candidatar-se ao trono de Portugal, que permanece vago desde a morte do rei D. Manuel II. Com efeito Carlos é e o ante neto da Rainha Maria de Portugal que pelo seu casamento com o príncipe alemão Fernando teve três filhos: Pedro V, que morreu quando da peste, Luís I, herdeiro de Pedro e uma filha D. Maria Antónia. Maria Antónia casou com Leopoldo de Hoenzollern e teve dele um filho, Fernando da Roménia, pai de Carlos. Dado que o ex rei Carlos é o descendente do ramo da dinastia portuguesa que permaneceu fiel à Constituição, ele tem, de acordo com certos historiadores mais direitos do que o actual pretende D. Duarte Nuno que é descendente do ramo que se opôs à Constituição e foi por isso expulso de Portugal. Por isso vários se perguntam em Lisboa se no fim Carlos irá reivindicar a Coroa portuguesa sobre a qual tem tantos direitos ou se, pelo contrário, preferirá ser restaurado no trono da Roménia, porque correm rumores de que Carlos está em vias de substituir o seu filho Miguel, que não goza da simpatia dos comunistas romenos».
E se o Rei, em vez de se ter refugiado na linha do Estoril, tivesse tomado em mãos o Palácio da Ajuda? Seria Rei. E hoje adeus feriado!