Traduzido do russo e não do francês - como tantas outras versões - por Nina Guerra e Filipe Guerra, o livro As Noites Brancas de Fiódor Dostoiévski a si mesmo se chama «romance sentimental, das memórias de um sonhador». A obra foi publicada pela primeira vez em 1848. Como nota o tradutor, o herói, tal como o dos Cadernos do Subterrâneo, do mesmo autor, é um desadaptado que perdeu o talento de viver «na vida real».
Logo nos primeiros diálogos, aliás, a desconhecia, a «querida Nástenka», com quem contracena ao longo da narrativa, percebe-o porque ele «faz de si um inimigo» e é essa inimizade que o arrasta e ele persegue, sonhador e o sonhador «não é uma pessoa mas uma categoria intermédia», a vogar, por isso, num mundo feito de criaturas.
Na terceira noite ela está contente e trava-se a conversa que é a chave dos sentimentos de que a obra é a a ficção:
«Sabe por que estou tão contente? - disse ela. - Porque me agrada tanto vê-lo? Por que gosto tanto de si hoje?
«Porquê? - perguntei e o meu coração tremeu.
«Gosto de si, porque não se apaixonou por mim».