Houve um jornal que publicou hoje uma entrevista minha. Não sei por que pudor me abstenho de a reproduzir aqui, mesmo em parte, e mesmo esta referência já me parece algo atrevida.
Há na escrita este desdobramento que leva a que sinta o autor (alguns autores, já lá vamos) alguma timidez em falar extensamente de si. Não sendo propriamente um escritor - acho que é preciso alguma coragem para alguém se julgar isso sem durante muitos anos ser apenas aquele que escreve - sinto algo parecido.
Em excepção contida à regra fica aqui, porém, apenas uma pergunta e uma resposta dessa entrevista: «O que faz para se divertir? Basicamente, leio e escrevo. Hoje, a escrita é a minha grande ocupação. E leio muito, por vezes os livros de um autor todos seguidos. Fiz as pazes com a complexa Agustina, com o labiríntico Borges, qualquer dia até com o Lobo Antunes, fingindo que ele não existe como pessoa insuportável de vaidade. Há alturas para tudo na vida. Até para se fazerem pazes com o mundo».
A que propósito vem isto? De ter visto nas montras mais um livro de conversas com o Lobo Antunes e andar cheio de engulhos quanto a comprá-lo. Não há dúvida que a criatura tem o condão de irritar a paciência por causa da soberba. Talvez em atenção ao João Céu e Silva me decida. Mas sempre a lembrar-me o que dizia, ensarilhado nas suas angústias, o Vergílio Ferreira: que o homem tem entradas de Lobo e saídas de Antunes. Subiu-lhe a fama à cabeça! A culpa é de quem lhe atura a arrogância.