«Há hoje no mundo pouca gente que durma; as noites são mais longas, mais longos os dias». Assim começa Stefan Zweig a sua poderosa narrativa sobre o tenso ambiente de uma Europa em guerra, a vigília como sentinela. «Em todos os países, por essa Europa fora, em todas as cidades, em cada rua, cada casa, cada aposento, tornou-se mais curta e febril a tranquila respiração do sono».
Li este texto há uns anos, no mesmo estado de exaltação que o escasso descanso traz ao organismo, a inquietação tornada constante insónia. «Toda a humanidade tem agora febre de dia e de noite; esse terrível, pavoroso, estar deperto transparece nos sentidos sobreexcitados de milhões de criaturas».
Lá pelas quatro da manhã virá não o sono mas o cansaço.Umas horas depois a luz do dia e o ruído da vida irrompem. O sentido do dever aguilhoa a resistência. No mais é a inércia do movimento, essa lei da dinâmica do que acaba por suceder.