O livro é pequeno e a capa atraente. É encadernado. A editora chama-se Opera Omnia e tem sede em Guimarães. Mora aqui. O autor nasceu em Viana do Castelo em 1923. São pequenas histórias, proeza num País que lê a metro cúbico de papel, onde os editores dizem aos autores de contos «e porque não tenta um romance, pois contos ninguém lê!».
É António Manuel Couto Viana e o seu livro Que é que Eu Tenho Maria Arnalda?. A história que dá nome ao volume não é grande espingarda e é politicamente incorrecta, mas creio que o autor não se importa, porque tem qualidade literária que chegue.
A personagem é a Cló, a Clotilde Patacho, filha de um garagista, «senhora de um pujante buço na cara cavalar, onde pesavam uns óculos pesados de dioptrias», mulher de «corpo desarrumado».,
Malgré, a dita, durante as onze páginas e meia da narrativa seduz e é violada pelo contabilista Sílvio, assediada pelo recepcionista do «Hotel Familière», importunada pelo revisor do Wagon Lit no Sud Express e entre o primeiro e o segundo molestada por «um pretalhão enorme» (sic, «pretalhão enorme») vindo da rua e tentando saltar para cima da inocente que ignorava estar num hotel «de curta duração». No meio destas pícaras aventuras, ao partilhar quarto com a amiga Arnalda, mana do que conta a epopeia, não se livram ambas de olhares oblíquos e carregados de pensamentos picantemente equívocos sobre a natureza das suas aliás tão diversas morfologias e respectivas potencialidades libidinosas.
Ah! Tudo termina de forma inesperada. Mau grado a aparência, e porque bizarramente atraente, e para além disso fecunda, ao virar-se para a última folha, a Cló está grávida. De quem? Do narrador, pois claro. Diz ela e nós acreditamos.