São sujeitos à mesma lei da Natureza que o camponês segue e respeita e pela qual se orienta, os livros. Há dias em que se sai de casa, olha-se para o céu, vê-se que está a chover e uma pessoa diz: hoje não há livros. Aconteceu hoje e não fui à Rua de Anchieta, a feira de livros usados, lugar de alfarrabistas, martirizados pelo sol e pelo frio e que só a chuva pode afugentar, porque é tudo a céu aberto.
Agora que escrevo pergunto-me se a verdade da vida terá correspondido à verdade do que presumi ou se os estóicos vendedores terão sabido resistir, entre plásticos e guarda-chuvas que também também se chamam sombrinhas. Mas já é tarde, porque o sábado útil acabou com a chegada da noite. E pergunto-me se o nome da Rua é de Anchieta ou da Anchieta, mas embora não seja tarde, sempre há uma legítima preguiça em ir procurar a verdade toponímica, porque com a chegada da noite de sábado inaugura-se o direito a ao menos hoje não, princípio sagrado de liberdade ociosa que é excepção ao mundo afadigado dos deveres e das obrigações. Quanto à foto fui buscá-la a um excelente blog que se chama O Funcionário Cansado e olha que nome mais a propósito! O seu autor gosta de livros, diria que ama livros se não houvesse que poupar por pudor do banal a palavra amor.
P. S. Quem for ao link que cito encontra um texto do Jorge Silva Melo, editado pelo jornal Público. Encontrei-o lá por vezes, na Rua de ou da Anchieta; é a mesma, ao lado da Bertrand, aquela livraria que tem um cheiro adocicado e alguns livros que parecem muitos mas não tantos assim.