Uma pessoa perde-se em trabalho, afunda-se mesmo, e depois dá consigo cercado de livros acusadores que deixou de ler, abandonados, livros em que talvez as próprias folhas pareçam mais amarelas, como quando passa muito tempo sobre uma livraria e tudo cresta e as velhas obras nos recordam o tempo em que foram nossas e assim companhia, alegria e consolo de alma.
Ali estava ele, silencioso, sem um queixume, o livro de Rosa Montero, La Loca de la Casa. Marcado na página 52, onde nos separámos, o momento em que ele fala no monstro da criação, aquele que, vogando no mar violento da tua vida de escritor, que «pero luego, antes de que hayas tenido tiempo de haver nada, antes de haber sido capaz de calcular su volumen y su forma, antes de haber podido comprender el sentido de sua mirada taladradora, la prodigiosa bestia se submerge y el mundo queda quieto y sordo y tan vacio».