Emenda «perevenidos» para «prevenidos» avisou ela, amiga. E eu mil vezes calino, dez mil vezes trapalhão, cem mil vezes disléxico, um milhão de vezes distraído, dez milhões de vezes apressado, lá fui emendar. Antes que os sonhados leitores, os apetecidos leitores que quase não há, dessem por ela. Ela a asneira, troca de dedos vinda de um cérebro já virado do avesso.
A coisa em si, como diria o Kant, a coisa em si, digo eu, está a ganhar foros de persistência, como aquelas dores físicas que resistem à massagem ou aquelas dores da alma que não há ombro amigo que faça dissipar.
Ora eu esta manhã dei conta de que havia um Acordo Ortográfico que ia entrar em vigor. Foi ao ler o jornal, pela hora do pequeno-almoço. E há jornais, como o Público que se recusam militantemente a aplicar. E há escritores como o Gonçalo M. Tavares que vão escrever como sempe escreveram e os revisores se emendaram, olha, emendaram.
Pois para mim eis a salvação. Passo a escrever aflicção com dois cc's, como sempre adorei fazer para dizer que estou mesmo aflito, perú com acento no ú para dar mais enfâse ao Natal, que vejo celebrar com a matança do glu-glu. Assim ninguém dirá nada. Quando hesitar aos sessenta anos sobre devo escrever vêm ou vêem, ou havê-lo-à em alternativa a havê-lo-á, tanto faz.
É que o Acordo é optativo. Cada um faz com ele que lhe dá na real gana. É uma lei para quem quer.
É como os Governos do País. Foi da cabeça deles que veio esta. Deles e dos políticos da comunidade dos países que falam português.
E eu que me estava a tornar um libertário em política e um anarca em ortografia aqui estou, fiel cidadão e sofrível contribuinte, mau escrevinhador, a deixar o meu obrigado a todos os que na política me salvaram: muinto oubrigado a toudos purque eu axo quisto çadebe escrever cuma çalê. E o resto são lérias...