Senti ao ler porque tinha sentido ao ter vivido. Não! Digo a verdade: senti mais, lendo, devido ao modo arrebatado como está escrito. Stefan Zweig tem aquele dom de desventrar aquilo sobre que escreve. As biografias que escreveu são a revivescência do que nunca morre, um forma de Fénix ser através da Literatura.
Tinha encontrado num alfarrabista de rua os «Encontros». Editados pela Livraria Civilização em 1938. Uma tiragem encadernada, em oitavo.
Esta manhã estive com a sua conferência sobre «o significado e a beleza dos autógrafos», proferida a convite do jornal britânico The Sunday Times em 1935. O jornal já não é o que era porque o mundo mudou.
Extasiado sobre a carta que Beethoven escreveria já nos últimos dias da vida, esgotado, e disso já incapaz, que com esforço sobre-humano conseguiu a custo assinar, dirigindo-a à London Philharmonic Society, carta em que, respondendo ao convite para ali apresentar as suas obras, apenas já diria «sinto-me tão cansado, já nada mais posso dizer», diz Zweig, esmagado ante a assinatura firmada em «titânico esforço, os seus dedos trémulos, inermes»: «não foi só Beethoven quem traçou esta palavra, - aqui a morte escrevia também».
O genial compositor alemão, essa «garra leonina» era naquele instante «o moribundo que não sabe que é forçoso morrer». A alegria de viver possuía-o, a morte tornara-se o instante de nostalgia da existência.